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Trompete



Trompete
Trompete (Modelo Escovado)

Instrumento musical de sopro pertencente à família dos metais. Consiste num tubo cilíndrico recurvado sobre si mesmo, em cujas extremidades ficam o bocal e a campânula. Três válvulas (pistões), introduzidas no século XIX, permitem-lhe a emissão de todas as notas e suas gradações.

O trompete na Antiguidade

O trompete é provavelmente , dos instrumentos musicais actualmente existentes, aquele que mais evoluiu ao longo dos tempos.

A sua longa história teve início quando nos primórdios da humanidade os nossos antepassados começaram a usar materiais ocos (como cornos de animais ou conchas de moluscos) para amplificar o som.

Desde então, imensas alterações foram sendo introduzidas, de tal modo que o trompete dos nossos dias tem muito pouco a ver com o seu predecessor.

A mais antiga evidência da existência do trompete remonta a cerca de 1500 AC, de acordo com as pinturas encontradas no túmulo do imperador egípcio Tutankhamon. Os trompetes egípcios eram constituídos por um tubo com cerca de 120 cm, construídos em prata ou bronze e eram utilizados sobretudo como meio de sinalização, como por exemplo de batalhas ou da chegada de alguém.

Este aliás, parece ter sido o uso privilegiado do trompete ao longo de uma parte muito significativa da sua história, pelo menos até cerca de 1800, altura em que a introdução de válvulas permitiu a expansão cromática do instrumento e o catapultou para a ribalta.

De facto, antes da introdução do sistema de válvulas, o trompete estava confinado à emissão de sons em intervalos naturais (dependentes do comprimento do tubo) o que limitava o seu uso, enquanto instrumento musical, a fanfarras e agrupamentos similares.

Vestígios do uso do trompete são ainda encontrados em outras civilizações antigas, desde a Grécia à China, passando pela Índia, Roma antiga e Japão. O Dung, espécie de trompete usado no Tibete, ainda subsiste nos dias de hoje. Tem quase 5 metros de comprimento.

O trompete assumia na antiguidade um papel quase sagrado. No Tibete, em Roma e Israel, por exemplo, o seu carácter sacro significava que apenas os sacerdotes o podiam usar. As próprias referências bíblicas ao trompete estabelecem uma forte conotação entre este instrumento e as vozes dos anjos.

Não obstante o carácter de imponência conferido ao trompete, durante uma significativa parte da sua história os trompetistas não tiveram a mesma sorte... De facto, durante a idade média, por exemplo, apesar de a musica dos trompetes anunciar a chegada do rei e animar os serões da corte e de os trompetistas serem ornamentados com trajes especiais, estes últimos encontravam-se na base da pirâmide social e eram tratados como servos.

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Primeiros passos para a Evolução

No período renascentista, finalmente, os trompetistas decidiram juntar-se e começar a compôr musica para o trompete, aspirando a algo mais do que tocar em fanfarras ou emitir toques de guerra e de sinalização. Um novo tipo de trompete surge nesta altura, uma espécie de “trompete de vara” semelhante ao antepassado deste tipo de trombone, em que um tubo deslizante foi adicionado ao tubo original de modo a que o seu movimento (encurtando ou diminuindo a extensão total do tubo) permitia a emissão de sons em intervalos cromáticos que de outro modo não seriam possíveis.

Com a invenção deste tipo de trompete o instrumento libertou-se da amarra e limitação que constituía a emissão de um conjunto limitado de notas, abrindo as portas para a utilização mais livre do instrumento em termos melódicos. Porém, uma outra limitação subsistia – a utilização de um tubo deslizante, apesar de aumentar o leque harmónico do instrumento, não se revelava funcional e exequível em termos técnicos porquanto não permitia rapidez na execução do instrumento.

Devido a esta limitação, o “trompete de vara” não sobreviveu... porém foi dado um importante passo em relação ao futuro, além de que, por esta altura, os trompetistas começaram a adquirir um estatuto de maior privilégio, de tal ordem que começam surgir trompetistas profissionais que apenas tocavam para as classes sociais mais abastadas e, curiosamente, em certos períodos da história, as classes mais pobres eram proibidas de tocar este instrumento de modo a permitir que apenas os melhores instrumentistas – profissionais - pudessem exercer a sua actividade.

Nos séc. 17 e 18 um novo tipo de trompete ganhou popularidade: o trompete natural. Tratava-se de um trompete constituído por um tubo metálico circular sem quaisquer válvulas, tendo numa extremidade uma espécie de bocal e na outra uma campânula.

Um novo tipo de execução do instrumento é surge nesta época, o chamado clarino. Consistia em tocar o trompete no seu registo mais agudo em que a intervalo natural de harmónicos é muito mais próximo formando uma escala completa. Os músicos eram assim treinados para tocar apenas neste registo agudo que começava na 3ª oitava do instrumento

Compositores famosos como Bach, Haydn e Handel escreveram para este instrumento. Contudo, devido às limitações do instrumento, poucos trabalhos foram escritos especificamente para o trompete natural.

O estilo clarino ainda hoje surpreende os actuais trompetistas uma vez que exigia, face às limitações próprias do instrumento daquela época, uma capacidade excepcional por parte dos músicos de então. De tal maneira que a selecção dos trompetistas era extremamente exigente. Conta-se até, que naquela altura apenas eram admitidos nas escolas de trompete, mesmo como aprendizes, os filhos de membros da escola...

Os fabricantes de instrumentos da época começam a fabricar trompetes em diferentes afinações, especialmente em Ré e Mib (Alemanha e Inglaterra) sendo que é introduzido um novo tipo de bocal, mais anatomicamente funcional, que facilitou a afinação e a execução do instrumento nos registos mais agudos.

O sistema de válvulas

À entrada de 1800 o trompete começava a perder popularidade tendo em conta as limitações já apontadas. Para tentar solucionar o problema, em 1801 Anton Weidinger, de Viena (Áustria) inventou o trompete com chaves. Não foi feliz, uma vez que o tipo de chaves usado era semelhante ao utilizado nos saxofones e som do instrumento perdeu claramente qualidades em termos do seu timbre e nitidez. Este tipo de trompete não ganhou particular popularidade...

Mas quando o declínio do trompete começava a ser preocupante eis que, em 1813 surge o maior invento da história do instrumento e lhe permitiu adquirir um estatuto nunca alcançado até então: a introdução do sistema de válvulas.

O trompete era agora capaz de produzir confortavelmente uma escala completa em vários registos tímbricos, para além de que a sua execução se torna muito menos dificultada. Tal invento determinou a ascensão do trompete no que se refere ao seu uso orquestral.

E já que falamos no sistema de válvulas convém aqui explicar sucintamente como funciona: Sem nenhum dos pistões pressionados, apenas o tubo principal é utilizado e o ar atravessa-o de uma ponta à outra no trajecto mais curto possível. Quando se pressiona um dos pistões, como que se adiciona uma extensão ao tubo principal; o ar passa da válvula para a extensão adicional do tubo e deste novamente para a válvula saindo depois desta para o tubo principal do trompete. Este processo (aumento da extensão do tubo) resulta na emissão de um som mais grave. Se mais do que um pistão for accionado, o ar passa primeiro pela extensão que se encontra mais afastada do músico seguindo depois o seu trajecto através das outras válvulas até sair na extremidade (campânula) do instrumento.

Este é o sistema de pistões e válvulas habitualmente usado hoje em dia, mas coexiste um outro sistema de válvulas rotativas (usado, por exemplo, no Corne Inglês). O princípio funcional é o mesmo o sistema mecánico é que difere sendo de tal modo complexo que seria fastidioso aqui explicar.

Agora que o trompete se tornara um instrumento muito mais funcional, compositores como Berlioz e Rossini, e, mais tarde, Stravinsky e Shostakovitch começam a escrever partes para trompete nas suas obras.

A evolução do trompete não se deu apenas ao nível daquele afinado em Sib (que é o mais comum hoje em dia e o usado nas bandas filarmónicas em Portugal) antes sendo fabricados um sem número de variante do trompete, com várias afinações, como trompetes-baixo, trompetes com válvulas rotativas, fliscornes, trompetes “piccolo” etc... Alguns são mais populares do que outros e diferentes países e culturas privilegiam o uso de uns em detrimento de outros.

Um dos instrumentos inventados com a revolução do trompete de pistões foi o Cornetim em Sib. Dado o seu tubo mais pequeno e arredondado, o cornetim emite um som mais aveludado e mais afinado especialmente nos registos agudos o que lhe permitiu rapidamente adquirir um papel de destaque substituindo o trompete nomeadamente nas intervenções melódicas e a solo.

Um dos principais impulsionadores do cornetim e da técnica deste instrumento foi o francês Jean Baptiste Arban (1825-1889). O seu método para cornetim é ainda hoje amplamente utilizado sendo considerado por muitos como “a Biblia” deste instrumento.

Desde o séc. 19 até ao início do séc. 20, diversas novas formas de expressão musical apareceram, como por exemplo os “blues” e o swing. Enquanto instrumento melódico, o trompete teve sempre um papel privilegiado nestas novas formas de expressão musical.

Por alturas da 2ª Guerra Mundial o trompete começa a ser usado na música Jazz cada vez com mais relevo, dadas as suas características tímbricas que lhe permitem tocar trechos mais melodiosos e aveludados bem como partes mais agressivas e metálicas e o seu potencial para se ajustar acusticamente a qualquer tipo de ambiente.

A utilização intensiva do trompete na música Jazz levou a que as potencialidades deste instrumento e a técnica dos instrumentistas fossem levadas ao extremo, com vantagens não apenas ao nível deste género musical mas também dos variados domínios artísticos onde o trompete assume e continuará certamente a assumir um papel fundamental.

Nas bandas filarmónicas coexistem hoje em dias diversas variantes do trompete, das quais se destacam o fliscorne e o cornetim.


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