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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

PRA OUVIR A BANDA TOCAR



Eu não estava à toa na vida, não! Mas me deu vontade de ouvir a banda tocar. E passar. Não uma dessas bandas nas versões de hoje, mas a histórica banda de música. Aquela autêntica, dos velhos tempos. A banda decantada na composição de Chico Buarque, na qual “o meu amor me chamou” para ver os músicos passarem “cantando coisas de amor”. Aquela que toca do hino nacional à música popular brasileira, passando pelo frevo e outros ritmos, indo até à música clássica. A banda dos dobrados, das marchas, das marchinhas. A banda de música de quando eu menino, da época dos nossos pais, avós e de tantos e tantos vós para trás.
 Não sei por que — e não mais que de repente — me veio esse desejo. Mas o certo é que ele surgiu. E com toda a “força da mansa sabedoria”, como está no poema. Talvez tenha vindo de resquícios dos bons momentos de minha infância em Patos, quando, em muitas manhãs de domingo, eu despertava sob os acordes da banda de música Vinte e Seis de Julho, daquela cidade. E via a banda passar. E tocar. Com todos os músicos desfilando garbosamente, de farda engalanada com botões doirados, quepe e tudo o mais a que tinham direito. Todos com semblante alegre e fazendo os outros sorrir. Sorrir de alegria, felicidade.
 Assim fiquei pensando como seria bom se, todos os domingos, as cidades desse meu Brasil afora fossem acordadas por uma banda de música tocando. Tocando e desfilando numa de suas praças. Não precisava mais do que isto: cada domingo, uma banda numa praça de um bairro.
 Se isto acontecesse a minha gente sofrida não teria somente carnaval, futebol e samba para esquecer a tristeza, não! Teria também como se despedir da dor vendo a banda tocar. E desfilar. E o domingo meu, seu, de minha gente, do povo brasileiro se tornaria mais alegre. E essa alegria contagiaria os familiares, vizinhos, amigos, todos quantos houvesse, como que numa corrente de elos musicais nos trazendo mais paz e amor.
Também, com isso, os nossos filhos, netos, bisnetos — e outros etos mais que viessem — iriam saber (a maioria não sabe!) o que é uma banda de música. E assim, num contato mais direto com maestros e músicos, esses nossos descendentes tomariam conhecimento do que é clarinete, requinta, flautim, saxofone, trompa, trombone, trompete, tuba, bombo, surdo, tarol, baqueta, caixa, pratos etc. E aprendendo sobre os instrumentos, ouviriam a música alegre se espalhar pela cidade. Isto depois de verem a praça toda se enfeitar pra ver a banda tocar. E desfilar.
Essa providência proporcionaria, ainda, maior satisfação aos músicos que, tocando com mais freqüência, se sentiriam melhormente prestigiados e mais úteis à sua banda e à sociedade de um modo geral, porque fazendo aquilo que sabem e gostam de fazer, que é tocar. Tocar para deleite deles e dos outros.
Dessa maneira, para não irmos muito longe, aqui na Cidade das Acácias poderíamos ver e ouvir as bandas de música Municipal, da Polícia Militar do Estado, do 15º Regimento de Infantaria e a do professor Vicente Nóbrega, da Escola de Música Toque de Vida, do Bairro de Jaguaribe.
E se isto acontecesse, tenho certeza, os moradores do bairro da praça bafejada pelos acordes se confraternizariam. E, coletivamente, tomariam o domingueiro café da manhã ao ar livre, juntamente com os músicos. Tudo como que num piquenique com frutas, pão, bolo, queijo, leite, café e outras iguarias mais. Isso sobre toalhas espalhadas pela relva e pelos bancos da praça iluminada pelo sol matinal — benéfico sol da manhã! E conversariam, trocariam idéias, sorririam, abraçar-se-iam e até chorariam. Sim, chorariam, porque de felicidade também se chora.
Com isto, numa alegria só, dentre outras músicas, ouviriam A Praça, de Carlos Imperial; Luar do Sertão, de Catulo da Paixão Cearense; Carolina, de Chico Buarque; Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu; Cinco de Agosto, de Ângelo Antonelo; Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga; Meu Sublime Torrão, de Genival Macedo; Maringá, de Joubert de Carvalho; Voltei Recife, de Capiba; Aquarela do Brasil, de Ary Barroso; Garota de Ipanema, de Vinicius de Morais e Tom Jobim; e, claro, A Banda, de Chico Buarque.

E assim a música alegre se espalharia pela praça, pelas ruas, pelo bairro inteiro, pela cidade. E todos nós, encantados, pararíamos pra ouvir e ver “a banda passar cantando coisas de amor”. Coisas de amor que trariam mais alegria e mais sentido à vida de nossa gente. Essa gente sofrida que precisa se despedir da dor, mesmo que seja somente vendo a banda tocar. E passar.




Everaldo Dantas da Nóbrega
http://blig.ig.com.br/everaldonobrega/2009/07/31/pra-ver-a-banda-tocar-artigo/


Fonte: Blog do Coreto

Nota do Blog: Belo texto que mostra realmente o sentimento de uma verdadeiro amante de Banda de Música, e sabe o quanto essa classe musical é tão rica culturalmente e principalmente retrata a falta de consciência cultural de muitas pessoas as quais por falta de conhecimento sobre essa magnífica profissão não sabe o seu real valor.

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