Eu não estava à toa na vida, não! Mas me deu vontade de ouvir a banda tocar. E passar. Não uma dessas bandas nas versões de hoje, mas a histórica banda de música. Aquela autêntica, dos velhos tempos. A banda decantada na composição de Chico Buarque, na qual “o meu amor me chamou” para ver os músicos passarem “cantando coisas de amor”. Aquela que toca do hino nacional à música popular brasileira, passando pelo frevo e outros ritmos, indo até à música clássica. A banda dos dobrados, das marchas, das marchinhas. A banda de música de quando eu menino, da época dos nossos pais, avós e de tantos e tantos vós para trás.
Também, com isso, os nossos filhos, netos, bisnetos — e outros etos mais que viessem — iriam saber (a maioria não sabe!) o que é uma banda de música. E assim, num contato mais direto com maestros e músicos, esses nossos descendentes tomariam conhecimento do que é clarinete, requinta, flautim, saxofone, trompa, trombone, trompete, tuba, bombo, surdo, tarol, baqueta, caixa, pratos etc. E aprendendo sobre os instrumentos, ouviriam a música alegre se espalhar pela cidade. Isto depois de verem a praça toda se enfeitar pra ver a banda tocar. E desfilar.
Essa providência proporcionaria, ainda, maior satisfação aos músicos que, tocando com mais freqüência, se sentiriam melhormente prestigiados e mais úteis à sua banda e à sociedade de um modo geral, porque fazendo aquilo que sabem e gostam de fazer, que é tocar. Tocar para deleite deles e dos outros.
Dessa maneira, para não irmos muito longe, aqui na Cidade das Acácias poderíamos ver e ouvir as bandas de música Municipal, da Polícia Militar do Estado, do 15º Regimento de Infantaria e a do professor Vicente Nóbrega, da Escola de Música Toque de Vida, do Bairro de Jaguaribe.
E se isto acontecesse, tenho certeza, os moradores do bairro da praça bafejada pelos acordes se confraternizariam. E, coletivamente, tomariam o domingueiro café da manhã ao ar livre, juntamente com os músicos. Tudo como que num piquenique com frutas, pão, bolo, queijo, leite, café e outras iguarias mais. Isso sobre toalhas espalhadas pela relva e pelos bancos da praça iluminada pelo sol matinal — benéfico sol da manhã! E conversariam, trocariam idéias, sorririam, abraçar-se-iam e até chorariam. Sim, chorariam, porque de felicidade também se chora.
Com isto, numa alegria só, dentre outras músicas, ouviriam A Praça, de Carlos Imperial; Luar do Sertão, de Catulo da Paixão Cearense; Carolina, de Chico Buarque; Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu; Cinco de Agosto, de Ângelo Antonelo; Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga; Meu Sublime Torrão, de Genival Macedo; Maringá, de Joubert de Carvalho; Voltei Recife, de Capiba; Aquarela do Brasil, de Ary Barroso; Garota de Ipanema, de Vinicius de Morais e Tom Jobim; e, claro, A Banda, de Chico Buarque.
E assim a música alegre se espalharia pela praça, pelas ruas, pelo bairro inteiro, pela cidade. E todos nós, encantados, pararíamos pra ouvir e ver “a banda passar cantando coisas de amor”. Coisas de amor que trariam mais alegria e mais sentido à vida de nossa gente. Essa gente sofrida que precisa se despedir da dor, mesmo que seja somente vendo a banda tocar. E passar.
Everaldo Dantas da Nóbrega
http://blig.ig.com.br/everaldonobrega/2009/07/31/pra-ver-a-banda-tocar-artigo/
Fonte: Blog do Coreto
Nota do Blog: Belo texto que mostra realmente o sentimento de uma verdadeiro amante de Banda de Música, e sabe o quanto essa classe musical é tão rica culturalmente e principalmente retrata a falta de consciência cultural de muitas pessoas as quais por falta de conhecimento sobre essa magnífica profissão não sabe o seu real valor.
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